No final de 2014, o WhatsApp começou a implementar criptografia ponta-a-ponta:
isso foi ativado por padrão em mensagens de texto enviadas entre
dispositivos Android, exceto nos chats em grupo. Hoje, isso mudou: todas
as mensagens em todas as plataformas serão protegidas dessa maneira.
Segundo a Wired,
isso vale para texto, imagens, vídeos e ligações pelo WhatsApp, em
todas as plataformas nas quais o app está presente - Android, iOS,
Windows Phone, BlackBerry, até mesmo o Nokia S40. Isso não requer
nenhuma ação do usuário: basta que eles estejam usando a versão mais
recente.
Jan Koum,
fundador do WhatsApp, diz que esperava concluir a migração para
mensagens criptografadas em janeiro. No entanto, eles tiveram algumas
dificuldades com vídeo, a última peça desse quebra-cabeça. "Você precisa
se preparar para uma situação em que alguém no Android pode enviar um
vídeo para um usuário do S40. Ou alguém em um Blackberry pode enviar
isso para um Windows Phone", diz ele à Wired.
Serviços como o Telegram oferecem criptografia ponta-a-ponta no caso dos chats secretos,
mas ao contrário do WhatsApp, isso precisa ser ativado manualmente e
não funciona para conversas em grupo. Como o WhatsApp tem um bilhão de grupos, seria um descuido não adicionar criptografia a eles.
Aqui,
está sendo usado algo chamado de "criptografia de chave pública". O
usuário A pede uma chave pública ao servidor do WhatsApp que se aplique
ao usuário B. O usuário A usa a chave pública para criptografar a
mensagem. No entanto, ela também requer uma chave privada para ser lida,
em posse do usuário B - por isso ela não pode ser lida por outro
usuário.
Essa criptografia
que nem mesmo os funcionários do WhatsApp podem ler os dados enviados
através de sua rede. Ou seja, se um tribunal exigir acesso a qualquer
mensagem, foto ou ligação, a empresa não poderá colaborar.
E
Koum diz que não adicionará um backdoor na criptografia, porque isso
tornaria o serviço mais vulnerável a abusos do governo e de hackers.
Além disso, segundo ele, adicionar um backdoor ou remover a criptografia
do WhatsApp não vai deter pessoas ruins - elas podem só mudar para
outro serviço.
Tudo isso foi
feito com anuência do Facebook. Koum é membro do conselho
administrativo, e diz: "se eles não fossem favoráveis a nós, eu não
estaria aqui hoje".
Isso pode aumentar o atrito entre WhatsApp e a Justiça brasileira. Este ano, a Polícia Federal prendeu Diego Dzodan,
vice-presidente do Facebook para a América do Sul, porque a empresa não
respondeu a uma ordem judicial para quebrar o sigilo de mensagens. Isso
estava relacionado à investigação de uma quadrilha em Lagarto (SE)
envolvida em tráfico de drogas.
Dzodan foi solto, mas o juiz que o liberou lembra que o Facebook ainda deverá responder aos pedidos da Justiça.
Em vez de explicar que o WhatsApp não guarda mensagens no servidor,
apenas metadados, a empresa simplesmente não respondeu. No Brasil, não
atender ordem judicial é crime.
Enquanto isso, o delegado Fabiano Barbeiro – que solicitou o bloqueio do WhatsApp no ano passado – avisou que pode pedir uma nova suspensão do aplicativo no país.
Esta semana, o Facebook anuncia que Marcos Angelini será o novo diretor de suas operações no Brasil. Segundo o Valor,
uma das missões de Angelini será encontrar uma forma de equilibrar as
demandas da Justiça e da Polícia com os valores do Facebook.
Essa disputa também está acontecendo nos EUA. O Departamento de Justiça estaria cogitando processar o WhatsApp
para avançar uma investigação que parou por causa de criptografia. Um
juiz federal autorizou a quebra de sigilo, mas não há como ver o que
está sendo dito.
Cada vez
mais, empresas de tecnologia usam a privacidade como diferencial para
seus serviços. É o caso da Apple, que se envolveu em uma disputa com o FBI para não desbloquear um iPhone à força. (A agência acabou recebendo a ajuda de outra empresa para fazer isso.) O WhatsApp e o Facebook apoiaram publicamente a Apple nesse caso.
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