Segundo o jornal Estado de São
Paulo, a ação deixou a população local perplexa e traz preocupação
Reservatório Risoleta Neves(Candonga) |
Usina hidrelétrica de Risoleta Neves
O reservatório da usina
hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), em Santa Cruz do
Escalvado, a 100
quilômetros de Mariana (MG), está sendo esvaziado às
pressas, por causa do risco de rompimento da barragem de Germano, estrutura da
empresa Samarco que ainda ameaça ruir. A ação deixou a população local perplexa
e traz preocupação.
"Conforme a água está
descendo, está acontecendo erosão da terra bem embaixo da Estrada de
Santana", conta o técnico em mecânica Jarbas Antônio
Lopes, de 54 anos, que havia levado parentes para ver a represa na manhã de
domingo (29). "Se despencar mais um pouco, vai bloquear a estrada",
diz, referindo-se a uma estrada rural usada por moradores e trabalhadores das
fazendas de gado ao redor da barragem. "O reservatório estava cheio antes
de acontecer isso. No dia em que a lama chegou, até aqui ficou com pó",
conta o técnico, nascido na região, que costuma visitar familiares no fim de
semana.
A ideia é que, caso Germano
estoure, o reservatório de Candonga, que tem capacidade para 544 milhões de
metros cúbicos, sirva como barreira de contenção para a lama, impedindo que ela
siga pelo Rio Doce, a exemplo do que ocorreu com os rejeitos das Barragens
Fundão e Santarém da Samarco.
No centro de Santa Cruz do
Escalvado, cidade de 8 mil habitantes distante cerca de 5 quilômetros da
barragem, moradores dizem não acreditar que o reservatório será esvaziado.
"Não pode. Muita gente pescava por lá até a lama chegar. Se essa barragem
de Mariana estourar e a lama vier toda para cá, quem garante que a represa vai
dar conta? Se der, a lama toda vai ficar aqui para sempre?", indagou o
ajudante-geral Jeferson Rodrigues, de 22 anos.
Na usina, poucos carros e
funcionários podem ser vistos do portão para fora. As comportas já estavam
abertas desde o dia 7, dois dias depois do acidente em Mariana, e a produção de
energia foi suspensa. A usina tem capacidade para produzir 140 MW/hora, cerca
de um sexto o que pode produzir, por exemplo, a Usina Henry Borden, da Represa
Billings, na região sul da capital paulista.
Barragem
O esvaziamento emergencial foi
decidido na sexta-feira, 27, quando o juiz Michel Cury e Silva, da 1.ª Vara da
Fazenda, teve acesso a relatório produzido pelo Centro de Apoio Técnico do
Ministério Público Estadual. O relatório atesta comprometimento da barragem de
Germano e foi feito com base em informações prestadas por empresas contratadas
pela própria Samarco. A Justiça deu prazo de dois dias para esvaziamento da
represa.
Até sexta-feira, o consórcio que
administra a usina (formado pela Vale, uma das donas da Samarco, e pela Cemig,
empresa de energia de Minas) informou que não havia sido notificado sobre a
decisão da Justiça. A Samarco foi questionada sobre o caso, mas não respondeu.
O consórcio que cuida da represa não atendeu nenhum de seus telefones neste
domingo.
Anteontem, a Samarco divulgou
nota em que afirma estar retirando peixes vivos, com ajuda de empresas
terceirizadas e pescadores locais, do canal de adução da represa de outra usina
hidrelétrica, Aimorés, também em Minas, que fica entre Governador Valadares
(MG) e Colatina (ES). "Depois de recolhidos, os peixes são encaminhados
para outros cursos dágua,
que possuem as mesmas características de seu hábitat original", diz a
nota.
Resumo
Além de destruir o distrito de
Bento Rodrigues, a tragédia em Mariana já tem confirmadas 11 mortes. Cinco
funcionários da Samarco e três moradores do vilarejo estão desaparecidos e dois
corpos aguardam identificação. Há uma semana, a lama que vazou da barragem, e
atingiu o Rio Doce, chegou à foz do curso dágua, no distrito de Regência (ES).
Justiça
Pela decisão judicial, tomada a
pedido do Ministério Público de Minas e do governo do Estado, a Samarco também
fica obrigada a informar o quadro de estruturas de apoio das represas chamadas
Sela, Tulipa e Selinha. A mineradora terá também de prever "consequências
e medidas emergenciais concretas", executar "integralmente as medidas
emergenciais apresentadas nos estudos anteriormente citados, em caso de
rompimento, bem como eventuais recomendações técnicas do Estado e do DNPM
(órgão federal de fiscalização)". Prevê-se multa diária de R$ 1 milhão
para caso de descumprimento.
Ação
O governo federal e os Estados de
Minas Gerais e do Espírito Santo entrarão nesta segunda-feira, 30, com uma ação
na Justiça para cobrar R$ 20 bilhões das empresas responsáveis pelo rompimento
da barragem em Mariana (MG) e criar um fundo para reparação dos danos. Além da
Samarco, a ação também terá como alvo a Vale e a BHP Billiton.
A medida foi anunciada
sexta-feira, após a presidente Dilma Rousseff reunir-se no Palácio do Planalto
com os governadores de Minas, Fernando Pimentel (PT), e do Espírito Santo,
Paulo Hartung (PMDB). A ação será coordenada pela Advocacia-Geral da União. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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